Anotações sobre o fracasso
O fracasso me
atrai ou melhor, a temática do fracasso
me fascina. Assim, quando leio sobre esse danadinho, costumo marcar as páginas em que aparece nas obras dos meus autores favoritos: Clarice Lispector,
Paul Auster e Virginia Woolf.
O meu hábito de
marcar os livros é recente, acho que foi em 1994, ano em que comecei a escrever
o trabalho de conclusão do curso de Jornalismo porque para ganhar tempo, eu
fazia anotações nos livros e só depois é que escrevia. A bússola para
redigir o ensaio "A crônica segundo
Clarice Lispector" foi "A
Descoberta do Mundo", uma coletânea que a editora Francisco Alves publicou
em 1992...
Parece que estou
fugindo do assunto, o post de hoje inaugura uma jornada que tratará do
fracasso. Começo com o conto
"O homem que apareceu", de Clarice Lispector, que foi retirado de
"A via crucis do corpo", editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 3a
edição, 1984.
Segue trecho:
(...)
Ele me contou que
tinha feito a guerra do Vietnã. E que fora durante dois anos marinheiro. Que se
dava muito bem com o mar. E seus olhos se encheram de lágrimas.
Eu disse:
— Seja homem e
chore, chore quanto quiser; tenha a grande coragem de chorar.
Você deve ter muito
motivo para chorar.
— E eu aqui, bebendo
café e chorando…
— Não importa, chore
e faça de conta que eu não existo.
Ele chorou um pouco.
Era um belo homem, com barba por fazer e abatidíssimo.
Via-se que havia fracassado. Como todos nós.
Ele me perguntou se podia ler para mim um poema. Eu disse que queria ouvir. Ele
abriu uma sacola, tirou de dentro um caderno grosso, pôs-se a rir, ao abrir as
folhas.
Então leu o poema.
Era simplesmente uma beleza. Misturava palavrões com as maiores delicadezas. Oh
Cláudio — tinha eu vontade de gritar — nós todos
somos fracassados, nós todos vamos morrer um dia! Quem? mas quem pode
dizer com sinceridade que se realizou na vida? O sucesso é uma mentira.
(...)
Quem quiser ler o
conto na íntegra, eu o encontrei neste blog bem legal: O homem que apareceu