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Sou uma pergunta

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Drawing by Tom Azevedo

Clarice Lispector e a poesia de Emily Brontë

Um dia desses eu acordei com uma moleza de gripe e depois do café voltei pra cama. Achei então que era um bom momento para ler as poesias de Emily Brontë (e com trema). Como ela me compreende, Lúcio, tenho vontade de dizer assim. Há tanto tempo eu não lia poesia, tinha a impressão de ter entrado no céu, no ar livre. Fiquei até com vontade de chorar mas felizmente não chorei porque quando choro fico tão consolada, e eu não quero me consolar dela; nem de mim. Você está rindo? – Fez há uma semana mais ou menos um grau abaixo de zero. Alguns dias depois desconfiei que o tempo estava bom e fui para a terrasse. Ainda estava frio e ficará assim até março, mas estava tépido e fresco, com um perfume que só se sente mesmo depois do inverno por causa das folhas que desde o começo caem e ficam no chão. Eu respirei tanto que Deus me castigou e por isso no dia seguinte eu estava com a moleza de gripe e li Emily Brontë... Você vê que as coisas se completam perfeitamente na Itália.

Doce náusea

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Clarice Lispector me leva a passear por labirintos surpreendentes. Labirintos em que sempre haverá uma saída, ou melhor, várias saídas. No conto "Amor", Ana se depara com o não familiar, com o estranho. E aí um vácuo suga os pés e a alma da personagem. É para quem gosta de interromper a respiração. Um maravilhoso salto no escuro. == Trecho do conto "Amor": "Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite – tudo feito de modo a que um dia se seguisse o outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.” In Laços de família, página 34.