Neste 8 de março de 2010, logo abaixo reproduzo as palavras da querida Bet Gonçalves Moreira que todos os domingos me dá a honra de enviar por e-mail o seu “Poesia aos Domingos”, uma seleção delicada de poemas, sempre com um forte “gancho jornalístico” pois ela está sempre antenada nas datas e fatos do dia a dia.
Uma busca linda a sua, Bet. Muito obrigada.

Gentes (de alma feminina e gentes que com ela se identificam ou a respeitam),
Nesta semana abro um dos meus livros - Poesia Erótica em tradução, de José Paulo Paes - e leio este poema de Giosi Lippolis (1923-2006), poeta italiana.
“Amo três gestos teus quando, senhor,
Me incendeias do teu próprio fogo.
Te serves do meu corpo, minha boca
Sorves na tua, me penetras...
És poderoso, vivo, estás feliz,
Mas depois disso cada minuto é meu.”

Reitero: este último verso diz tudo: como uma voz de mulher se torna porta voz poderosa do que as mulheres contrapõem no ato erótico, o alcance de seu poder e de seu prazer. Taí uma finalidade para o dia da mulher instituído, muito além da militância feminista...
Por isso também acrescento este poema da portuguesa Florbela Espanca (de nome tão paradoxal, nos limites). E fica aqui, nesta linha da poesia erótica feita por mulher, um desafio a minha amiga e comadre Irene Britto: ajude a preencher o poesia aos domingos com Gilka Machado...


Bet


FLORBELA ESPANCA (1894-1930)


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...


Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...


Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
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