Doce náusea
Clarice Lispector me leva a passear por labirintos surpreendentes. Labirintos em que sempre haverá uma saída, ou melhor, várias saídas. No conto "Amor", Ana se depara com o não familiar, com o estranho. E aí um vácuo suga os pés e a alma da personagem. É para quem gosta de interromper a respiração. Um maravilhoso salto no escuro.
== Trecho do conto "Amor":
"Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta
não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das
outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher
pelo jornal o filme da noite – tudo feito de modo a que um dia se seguisse o
outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade
aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.”
In Laços de família, página 34.