Eu ri à beça depois de ler a crônica de Eduardo Galeano, que transcrevo abaixo e passo o link para quem quiser adquirir o livro de onde retirei essa pérola do escritor uruguaio que tanto gosto.

Eu, mutilado capilar

Os barbeiros me humilham cobrando meia tarifa. Faz uns vinte anos que o espelho delatou os primeiros clarões debaixo da melena frondosa. Hoje o luminoso reflexo de minha calva em vitrines e janelas e janelinhas me provoca estremecimento de horror.
Cada fio de cabelo que perco, cada um dos últimos cabelos, é um companheiro que tomba, e que antes de tombar teve nome ou pelo menos número.
A frase de um amigo piedoso me consola:
- Se o cabelo fosse importante, estaria dentro e não fora.
Também me consolo comprovando que em todos esses anos caíram muitos de meus cabelos mas nenhuma de minhas idéias, o que acaba sendo uma alegria quando a gente pensa em todos esses arrependidos que andam por aí.      
      
(Eduardo Galeano em “O livro dos abraços”, p. 220, L&PM Pocket, vol. 465, 2ª. Edição, 2005)

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