1991, um ano radiante pois conheci Clarice Lispector.
Ler Clarice: uma forma de
ganhar forma, uma maneira de se desvendar, de atravessar veredas.
Centelhas,
centelhas aparecem sempre, como ao ler o trecho:
“Estou com saudade. Saudade de meus filhos, sim, carne de
minha carne. Carne fraca e eu não li todos os livros. La chair est triste.
Mas a gente fuma e melhora logo. São cinco para as sete. Se
me descuido,morro. É muito fácil. É uma questão do relógio parar. Faltam três
minutos para as sete. Ligo ou não ligo a televisão? Mas é que é tão chato ver
televisão sozinha.
Mas finalmente resolvi e vou ligar a televisão. A gente morre
às vezes.”
(“A via crucis do corpo”, p. 56, no conto “Por enquanto”,
Editora Fronteira, 3ª edição, 1984)