Entre os Atos ou Sob as Bombas
Virginia Woolf escreveu seu último livro, “Entre os atos”,
ouvindo o ronco dos aviões alemães. Ela começou a redigi-lo no ano em que a Segunda
Guerra começou, 1939. Dois anos depois, Woolf se suicidaria ao mergulhar no Rio
Ouse, perto da sua casa campestre em Rodmell, no condado de Sussex.
A obra, publicada quatro meses após sua morte, é a história da encenação de uma peça ao ar-livre. Habitantes da aldeia, vacas, passarinhos e outros seres participam do espetáculo que é comandado pela Srta. La Trobe. Enquanto a peça acontece, vemos as pequenas mentiras cotidianas e preconceitos vividos pelos personagens.
“Entre os atos” deixa uma sensação de uma obra inacabada,
apesar de a autora ter entregue o manuscrito pronto para edição pela editora
fundada com o marido, Leonard Woolf. O inacabado não é um ponto negativo, pelo
contrário. Remete ao fragmentário, quem sabe aos escombros deixados pela
Guerra.
De onde morava, Virginia conseguia ver a suástica dos aviões alemães passando sob sua cabeça.
Em Londres, Mecklengburgh Square, a última residência londrina dos Woolf (e a editora), foi bombardeada; a casa em Tavistock Square, onde ela e Leonard viveram antes de se mudarem para Mecklengburgh Square também foi destruída. “Tudo é entulho onde escrevi tantos livros”, anota VW no diário.